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Precisamos falar sobre as “birras” em viagens: a reflexão de uma mãe aflita

  • Juliana Guimarães
  • 17 de out. de 2016
  • 4 min de leitura


A minha coluna de hoje não é técnica propriamente. É mais um necessário desabafo de uma mãe impotente, que precisa compartilhar uma experiência e, quem sabe, colher palavras de sabedoria.


Há uma semana voltei de uma longa viagem que fiz pela Europa. Passei 20 dias por lá, e entre muitos pousos e decolagens, meu filho de 2 anos e 9 meses deu bastante trabalho.


No ano passado fiz exatamente o mesmo tipo de viagem com ele, e não houve problema algum. Mas também pudera, ele tinha pouco mais de 1 ano e era praticamente um bebê.


Esse ano foi bem diferente...os “terrible twos” estão aí para testar nossa paciência!


Meu filho chorou muito, reclamou, gritou, agitou, entediou, ficou nervoso e não havia nada nem ninguém que pudesse acalmá-lo. E eu fui prevenida: sabia que era uma viagem longa (cerca de 10 horas de vôo), e embarquei munida com o tablet recheado de desenhos animados dos Backyardigans, Peppa Pig e Show da Luna, que ele adora. Comprei diversos brinquedinhos nessas lojas de R$1,99 e ofereci só na hora do vôo, para que fosse uma novidade que o distraísse por mais tempo. E confesso que ainda ministrei algumas gotinhas de Dramim para facilitar o sono. Tudo isso foi em vão.


Meu filho simplesmente não aceitava o cinto de segurança para as decolagens e os pousos, não aceitava assistir aos desenhos que tanto gostava, não aceitava ficar sentado, e não aceitava o meu “não”. E isso foi bastante estressante, notadamente sob dois aspectos: o primeiro deles é o notável tédio e cansaço da criança diante de algo limitador e maçante; o segundo é aquela sensação de que estamos incomodando os demais 250 passageiros do vôo.


E essa sensação de que estamos incomodando o próximo é algo muito angustiante.


Outro dia li uma reportagem na Internet sobre um casal de passageiros que entregou aos demais um “kit desculpas” pelo choro do bebê deles no avião. O tal “kit” consistia num saquinho com balas, tampões de ouvido e uma mensagem de desculpas “assinada” pelo bebê. E pasmem, existe até um site que já vende esses kits prontos[i]. Esse fato aconteceu nos EUA, o que nos leva a crer que essa é uma situação algo que todas as mamães e papais do mundo inteiro se preocupam.


Acho que a atitude é louvável, um mimo que procura acalentar o incômodo dos choros das crianças nos vôos, principalmente os mais longos, e permite até que as pessoas sejam mais compreensivas.


Precisamos ter em mente que nem todo mundo é paciente, ou está acostumado a viajar na companhia de crianças. A maioria quer apenas um momento de relax nas viagens e nada mais. No bom português: ninguém é obrigado, né?


E nem todas as companhias aéreas estão preparadas adequadamente para receber crianças e evitar esse tipo de transtorno aos seus passageiros. A Azul definitivamente não está. Além do canal de vídeos infantis ser extremamente deficitário, a companhia não oferece nenhum tipo de atividade que possa entreter as crianças (a comissária me informou que apenas no vôo para Orlando é que são entregues kits com atividades infantis, mas que no vôo para Lisboa não havia essa disponibilidade). A TAP, ao contrário, já conta com um canal diversificado de vídeos infantis e oferta, sem custo extra, um kit generoso de entretenimento, que conta com mochila, revista para colorir, lápis de cor, porta lápis, tapa olhos, meia, escova e pasta de dente. Além disso, a TAP oferece um menu de refeição exclusivo para as crianças, o que não existe na Azul. Nem mesmo o comissariado da Azul está devidamente treinado para lidar com crianças, pois uma das agentes de bordo chamou minha atenção algumas vezes durante o vôo em razão do comportamento inquieto do meu filho.



Mas será demais pedir um pouco de compaixão com uma mãe e um pai que têm plena consciência que o filho está incomodando, que estão fazendo tudo no alcance para evitar os transtornos, mas que nem sempre isso é possível?


Passar por essa situação é como caminhar numa corda bamba: de um lado é a certeza de que outras pessoas certamente estão se sentindo indispostas com o comportamento da criança e que nem todos são obrigados a ter paciência que, às vezes, falta até aos próprios pais; do outro, o fato de que se trata apenas de uma criança, que não tem a dimensão e a maturidade sobre o comportamento adequado para aquele tipo de ambiente.


E as “birras” nas viagens tomam uma dimensão muito pior que as “birras” praticadas dentro de casa, pois o fato de estarmos em público nos limita de tomar uma atitude mais enérgica com a criança e os olhares julgadores das pessoas sempre nos intimida.


Aliás, sobre o julgamento alheio, vale o registro da minha experiência: na viagem de volta, quando pousamos em São Paulo e estávamos nos preparando para pegar a conexão para Belo Horizonte, aguardamos pelas bagagens nas esteiras por cerca de 1 hora e meia. Na verdade pareciam mais umas 10 horas de espera. O cansaço já nos tinha consumido e meu filho, igualmente cansado de esperar, chorou, chorou, chorou, chorou... eu já tinha tentado de tudo para acalmá-lo: conversei, cantei, entreguei o celular, tentei brincadeirinhas bobas, peguei no meu colo, coloquei no colo dos avós, mas nada, nada surtia efeito. Desisti e decidi deixá-lo chorar, colocar para fora a própria frustração. Para isso, coloquei-o no carrinho e fingi de desentendida. Foi o momento que uma Senhora desconhecida passou por nós e me criticou duramente, fazendo um comentário desabonador da minha conduta que eu me recuso a transcrever aqui. Fiquei frustrada, fiquei triste, fiquei fraca!


Tudo que eu não precisava naquele momento era de um julgamento alheio. Só quem é pai ou mãe que passa por isso sabe como é. E mais, sabe que não tem receita pronta para lidar com esse tipo de situação, pois o que dá certo para uma criança nem sempre vai funcionar com a outra. Cada lar, cada família, cada criança é única.



Julgar é muito fácil, mas também muito covarde.


O que nos fica é uma sensação de impotência, um misto de vergonha e conformação, mas sobretudo uma indignação diante de tamanha falta de compreensão, nossa e de todo mundo.

Juliana Guimarães Nogueira Vieira

Advogada, casada, mãe do Daniel. Sócia fundadora do Guimarães Pinheiro Advocacia. Dúvidas ou sugestões: juliana@guimaraespinheiro.com.br

 

[i] http://g1.globo.com/turismo-e-viagem/noticia/2014/11/pais-de-bebe-entregam-passageiros-kit-desculpas-por-choro-no-aviao.html


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